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Contra e a favor da Copa

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Eu já fui contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Em um tempo em que o evento privado da Fifa ainda era um sonho nacional. Naquele tempo, nem tão distante assim, ser contra a Copa não me fez ser reconhecido como ativista, engajado ou progressista. Quem via com maus olhos o espetáculo do futebol por aqui era pessimista, ou tinha a “síndrome de vira-lata” – o termo continua sendo usado para defender o evento por gente do estilo do suplente de senador Emir Sader (PT).

Eu via a Copa com receio porque não acreditava quando o então presidente Lula dizia que, para receber o evento, o governo construiria obras de infraestrutura e a iniciativa privada construiria os palcos dos eventos. Com a saudável desconfiança do Velho do Restelo, imaginava que teríamos rios e rios de dinheiro jogados num evento de forma descontrolada. E foi bem isso o que ocorreu: os estádios, cuja ideia inicial era que tivessem sido feitos pela iniciativa privada, ficaram por conta do dinheiro público. As obras atrasaram e os valores aumentaram. E a infraestrutura, que deveria ter sido melhorada pelo governo, acabou ficando de lado.

Todos esses gastos não apenas lesaram os cofres públicos: eles aumentaram a inflação. Um blog da revista Superinteressante explicou bem claramente que inflação é um jeito de o governo bater as carteiras dos governados. Cito-o aqui: “deixaram as impressoras de dinheiro ligadas no máximo. Só para dar uma ideia: em junho de 2010, havia R$ 124 bilhões em cédulas girando no país. Agora, são R$ 171 bilhões. Quase 40% a mais.”

Polícia faz cordão de isolamento para impedir passagem de manifestantes no Eixo Monumental de Brasília (Foto: Reprodução/TV Globo)

Polícia faz cordão de isolamento para impedir passagem de manifestantes no Eixo Monumental de Brasília (Foto: Reprodução/TV Globo)

Hoje não precisamos mais imaginar na copa: ela chegou. Já temos estádios bancados pelo dinheiro público: é o mínimo que a Fifa exige. A infraestrutura está bamba: a Infraero teve que enganar a vistoria de Confins para Copa das Confederações. Agora, muita gente já percebeu o que houve: em Brasília, protestam nas proximidades do caríssimo Estádio Mané Garrincha. Dentro da arena, a presidente Dilma foi vaiada. Por aqui, enquanto escrevia, a Savassi recebeu, entre outros eventos, uma pelada dos atingidos pela Copa – a pauta não é desestatizante como a minha, mas a indignação é parecida: quem não vai participar da festa acabou tendo que bancar mesmo assim.

Como dizem os meus amigos hipsters, eu era contra a copa antes disso ser mainstream. Agora, entretanto, os gastos já foram feitos. 12 sedes pelo Brasil, com estádios bilionários onde não há público para tantas partidas de futebol. Moradores já foram removidos para dar espaço à festa internacional. Depois disso, não vejo motivo para ser contra a realização do evento. Nos resta torcer para que as Copas sirvam para recuperarmos parte dos prejuízos. E aprender o que acontece quando há euforia com o dinheiro público.

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